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Já floreiam giestas pelos montes

Aromas acres invadem os caminhos

O amarelo e o branco em horizontes

À mistura com roxos rosmaninhos.

                          Aurora Simões de Matos

 

Para o burro (quebranto, fome, etc) não entrar; para o diabo não entrar; para que o ano seja de fartura; para proteger animais; para afastar a má sorte, os azares ou os castigos; contra o mau olhado; para trazer prosperidade e saúde a quem aí vive – razões mais do que suficientes para se colocar um ramo de maias nas portas, janelas e portões das casas, palheiros e currais (e nos carros, barcos e outros bens), no dia 30 de abril, ao anoitecer.

São muitas as crenças e tradições em Portugal sobre as maias, e cada terra tem a sua forma de celebrar: no algarve, colocam-se à porta das casas bonecos de palha de centeio vestidos de trapos e enfeitados; em Beja, crianças vestidas de branco, adornadas com flores silvestres, sentam-se em pequenos «tronos» e pedem a quem passa «um tostãozinho para a Maia que não tem saia»; em Trás-os-Montes, um menino – o Maio-Moço – é enfeitado pelas raparigas novas, que o levam a passear pela rua e dançam e cantam à volta dele; em Vila Nova de Anços, os rapazes deixam coroas de flores à porta das raparigas de quem gostam; em Trás-os-Montes e na Beira Alta comem-se castanhas secas; entre outras.

Também em outros países da Europa há várias tradições, como por exemplo o Mastro de Maio, com fitas presas ao topo, que mulheres e homens seguram enquanto dançam coreografias bem ensaiadas.

 

Lenda das Maias
No Minho, as pessoas contam uma lenda muito curiosa: quando Jesus nasceu, Herodes, o rei da Judeia, sentiu-se ameaçado. Temia que aquele Menino, a quem chamavam Rei dos Judeus, lhe roubasse o trono. E isso ele não queria, está bem de ver. Então, planeou mandar matá-lo.
Ao saber das intenções do rei, José fugiu com Maria e o Menino Jesus para o Egito. Mas Herodes não se aquietou e ordenou: «Aquele que descobrir a casa onde está escondia a Sagrada Família, deve assinalá-la com um ramo de giestas em flor, para os soldados saberem aonde se devem dirigir!» E assim se fez.
Contudo, algo espantoso aconteceu: na manhã seguinte, bem cedo, quando os soldados chegaram, todas as portas de todas as casas daquela terra estavam enfeitadas com um ramo de maias. E assim se salvou o Menino.

 

Em pequena, eu gostava muito de cumprir a tradição de colocar maias nas portas e nas janelas, ao anoitecer.

Quando o ano ia frio e os montes andavam roçados, encontrar giestas floridas podia ser uma tarefa árdua. Era preciso percorrer montes e ribeiras para encontrar as flores amarelas, que depois se partilhavam com os vizinhos, porque a boa sorte queria-se partilhada.

As maias, além de pintarem belos quadros na natureza (curiosamente com a minha cor preferida) têm muitas utilizações – são usadas como planta medicinal e ornamental; na produção de mel; na fertilização de solos, depois de cortada e enterrada; servem de alimento e de cama para o gado; os ramos podem ser usados para fazer cestos, escovas, vencilhos e vassouras (eu ainda uso uma vassoura de giesta para varrer o forno a lenha, antes de lá colocar as assadeiras com a carne).

As flores também eram usadas com mestria pelas crianças, para fazerem gaitas. E depois os «carneirinhos», para brincadeiras muito criativas.

Já agora, o nome do quinto mês do ano no calendário gregoriano vem de Maia, a divindade Romana, mãe de Mercúrio (Hermes, na mitologia grega), deusa da terra e das flores. É ela a responsável pelo crescimento das plantas e das flores, cujo ponto mais alto desta renovação da natureza é o mês de maio. As maias estão, por isso, ligadas à fertilidade.

Maia também é sinónimo de «boa mãe».

 

E agora, duas sugestões de leitura:

Sobre as giestas e as maias: https://wilder.pt/diversoes/o-que-procurar-na-primavera-as-flores-das-giestas

Livro: Pelos caminhos assombrados de Portugal, rota dos mitos e lendas, de Vanessa Fidalgo 

 

Conheces outras lendas associadas às maias? Partilha comigo!

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