«Sempre imaginei que o paraíso fosse uma espécie de livraria.» (Jorge Luís Borges)
Uns atrás dos outros, alguns de casacos e camisolas enrodilhados nos braços e de rostos vermelhos, dirigem-se à sala – o intervalo do almoço terminou. Sentam-se nas cadeiras. Bebem um gole de água. O chefe do dia já está de costas para o quadro e de frente para os colegas. Prepara-se para orientar a meditação. Os exercícios variam ao longo das semanas, mas o objetivo é sempre o mesmo: trazer cada um para o aqui-e-agora.
É hora da sobremesa. Já tenho o livro na mão, ou o texto, ou o vídeo pronto a ser projetado no quadro interativo. É hora de alimentar (e abrir) as nossas mentes.
Eis o cardápio*:
– à 2.ª feira é dia livro de literatura infantil;
– à 3.ª feira há sempre surpresas na ementa: pode ser uma sinopse, um prefácio ou um posfácio, uma biografia, uma crónica, um artigo, ou até um texto da minha autoria; é mais flexível e variada, a sobremesa deste dia;
– à 4.ª feira temos vídeo ou excerto de livro informativo, cuidadosamente selecionado dos nossos melhores logradouros;
– à 5.ª feira, uma lenda ou um conto da tradição oral faz as delícias da criançada;
– à 6.ª feira, os alunos podem sugerir e apresentar a sobremesa, à vez. Podem trazê-la de casa ou escolher o cardápio da biblioteca, que a escola tem a sorte de ter.
Nas leituras que faço, não há recurso a música, ou a adereços, ou a grandes variações de voz, nem a perguntas no final das leituras; que a rainha seja a palavra, por si.
Importa que os alunos possam ouvir e saborear cada palavra, cada frase, cada parágrafo, cada texto, como uma sobremesa que se come devagar, colher a colher, para experienciar os seus sabores mais ou menos mesclados; mais ou menos intensos; ou o seu sabor único e simples, mas delicioso.
E que possam pensar (se assim o sentirem): «Ah, que maravilha!»
*Convém dizer que este cardápio poderá ser alterado consoante a aceitação do público. Quem porventura o desejar implementar está à vontade para o fazer, mudando o que achar necessário. Porque qualquer estratégia é boa, desde que funcione.
Se começares a servir esta sobremesa na tua escola ou em casa, com as tuas crianças, conta-me como tudo. Gostava muito de saber!