Há muito que me encantava com as histórias maravilhosas dos antigos.
Há muito que desejava que elas chegassem aos mais novos, de uma forma bonita.
Há muito que ambicionava transformá-las em livros.
Setembro de 2021. Decorria a 3.ª edição do Summit de Escrita Criativa da Trinta por uma linha. Maria da Conceição Vicente falava do seu livro infantil “Bicha Moira”. De imediato, na minha cabeça, várias ideias pulularam, atropelando-se umas às outras — podia jurar que se alguém estivesse ao meu lado conseguiria vê-las, de tão intensas e nítidas.
Estava decidida: iria fazer uma coleção de livros infantis com as lendas da minha terra. A do Cabeço do Outeiro dos Riscos seria a primeira — por estar tão próxima fisicamente e pelas recordações que me traz.
Chegara o momento de mergulhar nesse tempo antigo; de contribuir para perpetuar esse património — Um país que não tenha lendas está condenado a morrer de frio (…) Mas um povo que não tenha tido mitos, esse povo já estaria morto. (Georges Dumézil)
O primeiro passo
Vasculhei as gavetas das Coisas-importantes-para-guardar, em busca das velhas e já amareladas fotocópias — recolhas de 1998, no âmbito de um programa de ocupação de tempos livres. Pesquisei em bibliotecas e na internet. Comprei livros sobre o tema. Consultei o Arquivo e o Museu Municipal. Contactei pessoas com autoridade na área (arqueólogos, bibliotecários, investigadores, entre outros — tive longas e inspiradores conversas com Fernanda Frazão).
Meses a fio de trabalho intenso e de muito entusiasmo.
É o germinar da semente lançada pela minha querida professora de Geografia, na Escola Superior de Educação de Castelo Branco – Adelaide Salvado. Foi com ela que aprendi a amar as gentes da terra; foi com ela que aprendi que não há (não deve haver) fronteiras entre disciplinas; foi com ela que conheci o poeta Ibn Sara; foi com ela que aprimorei o meu sentido de observação e de contemplação — de uma singela flor silvestre, de uma pedra, de um rosto enrugado, do momento único e irrepetível…