Sentada à secretária, lia uns documentos cedidos numa formação, quando me deparei com o seguinte excerto:
Gatos
Se deseja concentrar-se profundamente nalgum problema, especialmente em algo que escreveu ou esboçou, deve adquirir um gato. Sozinho com o gato na sala onde trabalha… o gato invariavelmente saltará para cima da sua secretária e instalar-se-á sob a lâmpada do candeeiro. A luz de uma lâmpada… dá ao gato grande satisfação. O gato irá acalmar-se e ficará sereno, com uma serenidade que ultrapassa todo o entendimento. E a tranquilidade do gato irá gradualmente contagiá-lo a si, sentado à sua secretária, de forma a que todas as qualidades excitáveis que impediram a sua concentração se recomponham e devolvam à sua mente o autocontrolo perdido. Não precisa de vigiar o gato o tempo todo. A presença dele é por si só suficiente. O efeito de um gato na sua concentração é notável e muito misterioso. (Muriel Sparks)
O meu olhar saltou de imediato para lá das margens do ecrã.
Sim, a Lucky* estava lá. Ela também gosta de se deitar na secretária (e nem precisa de candeeiro) e de passar em frente ao ecrã, principalmente quando estou em direto.
E também me rouba muitas vezes – quase sempre – a minha cadeira. Se chego primeiro à minha zona de trabalho e me sento, ela aproxima-se logo e mia, mia, mia. Tento distraí-la abrindo-lhe a porta e convidando-a a ir para o terraço, ou para os quartos dos meus filhos. Mas não. Ela não se deixa enganar – e tenho mesmo de sair e acomodar-me num banco preto desconfortável, que aí coloquei para essa situação.
Sim, já tinha pensado neste assunto: os gatos trazem-me tranquilidade, gosto de os ter perto de mim enquanto trabalho. E não, não sei explicar porquê.
*Podes encontrar a história da Lucky no livro “História de um elefante e de uma suricata”.
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