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Há pouco tempo, ainda de braço ao peito, falava ao telemóvel com uma amiga sobre o meu estado físico.

Não conversamos muito amiúde mas, quando o fazemos, a conversa dura sempre para lá de uma hora – o peso dos anos dá-lhe uma sabedoria inestimável – e as reflexões sobre a vida e a educação são uma constante.

Ora, a situação em que me encontrava trouxe à conversa a minha condição física e a importância, dizia eu, da ajuda dos filhos e do marido – fundamental nessa fase.

Ajuda ou colaboração?, perguntou a minha amiga.

Fiz uma pausa.

Uso muitas vezes um e outro termo mas nunca tinha refletido sobre o assunto, nem debatido o tema com ninguém. Típico. Há tanto sobre o que conversar!

A conversa continuou por mais algum tempo sob o mesmo mote e depois guinou para outros assuntos, para outros termos, também eles muitas vezes usados indiscriminadamente.

Após desligar o telemóvel, fui buscar a enciclopédia que tinha mais  à mão, a Nova Enciclopédia Larousse, e procurei as palavras:

“Ajuda s. fem. 1. Apoio, socorro prestado por alguém ou por alguma coisa; ato ou efeito de ajudar alguém.”

“Colaborar v. intr. (do lat. cum, com e laborare, trabalhar). 1. Trabalhar com outras pessoas com um objetivo comum.” (Para o assunto em questão, transcrevo aqui apenas a parte que lhe diz respeito.)

Nada de novo. Acredito que todos (incluindo até as crianças maiores) sabemos que há diferenças entre elas, no seu significado, ainda que dissecar o sentido das palavras até ao tutano não seja um assunto muito comum – creio – nas conversas do dia a dia entre adultos e entre adultos e crianças. (Ora aqui está um bom projeto para desenvolver na escola: Dissecando palavras.)

 

À definição do dicionário eu acrescentaria que a primeira poderá referir-se a algo pontual, num determinado momento; que podemos ajudar alguém que conhecemos ou alguém que não conhecemos – ajudar sem o outro saber de onde lhe vem a ajuda. Enfim, o ato de ajudar não implica necessariamente a existência de qualquer tipo de relação entre a pessoa que ajuda e a pessoa ajudada.

Um dá e o outro recebe, parece-me uma síntese aceitável.

Já colaborar é outra fruta: é estar a par com o outro a fazer algo, no mesmo patamar, numa relação de reciprocidade em que ambos dão e ambos recebem; implica ação de ambas as partes, estar presente, assumir responsabilidades em pé de igualdade.

Colaborar é mais exigente do que ajudar e, portanto, mais desafiador e enriquecedor. O que não invalida a importância de ajudar, em determinadas situações, como é óbvio.

 

Quantas vezes nos esquecemos do verdadeiro significado de uma palavra e a usamos indiscriminadamente em diversos contextos? Quantas vezes nos questionamos sobre a repercussão do uso de certos termos com as nossas crianças? Quantas vezes paramos para pensar como pode uma simples palavra ecoar na mente de quem a pronuncia e na de quem a ouve?

Sim, as palavras têm esse poder: interferir na forma como pensamos e, como consequência, na forma como agimos; as palavras que ouvimos (e até as que gostaríamos de ouvir e não ouvimos, porque não nos são ditas, muitas das vezes porque supostamente estão subentendidas) e as que pronunciamos.

 

Quantas vezes dizemos aos filhos (já bem crescidos, às vezes):

Ajuda-me a arrumar a cozinha!

E no fim ainda agradecemos:

Obrigada por me ajudares!

E reforçamos:

Sem a tua ajuda seria mais difícil! – Enfatizando que nos fazem um grande favor e, por isso, lhes ficaremos eternamente gratos pela ajudinha?

Agradecer sim, mas o compromisso, a responsabilidade, o sentido de pertença (com deveres e direitos). Afinal, uma família é (deve ser) uma equipa onde todos são chamados a contribuir nas tarefas do lar. Todos ficam a ganhar.

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