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Volto a esta página do livro A Lenda do Outeiro dos Riscos, a propósito da marcela das regueiras e dos lameiros.

Não o faço só porque gosto muito desta planta: da cor, do cheiro, das memórias que me traz; mas também porque, o facto de a querer incluir no livro deu-me que fazer – a mim e à Susana Bastos, bióloga da Associação Geoparque Arouca (AGA).

Como estamos na altura  da florescência da marcela, decidi contar-te como tudo aconteceu.

Em janeiro de 2022, enviei um e-mail à bióloga Susana a pedir-lhe para me dizer o nome científico da planta que lhe enviava em fotografias.

Ao que ela me respondeu prontamente: dada a variedade de espécies, só com base em fotografias não é possível fazer a identificação.

Apesar da marcela que eu conheço desde miúda se desenvolver em “prados e pastagens húmidas, incultos, várzeas e margens de linhas de água abertas. Em locais húmidos e por vezes sombrios”, só este facto não chega para a caracterizar. É preciso atender às características da planta. Mas de uma coisa eu tinha a certeza: a nossa marcela não tem pétalas brancas.

Para confirmar que a memória não me estava a atraiçoar, perguntei à minha mãe e à minha prima Clara, especialistas nestas coisas. E não, a nossa marcela não tem pétalas brancas – que afinal não se chamam pétalas, mas sim lígulas, esclareceu-me a bióloga.

Vários e-mails depois, liguei à Susana. Falamos muito e com entusiasmo, porque tendo em conta a altitude, a inflorescência e o habitat, podia até dar-se o caso de estarmos perante uma planta “quase ameaçada de extinção” – a Anthemis alpestris – apenas conhecida em Trás‑os‑Montes e no Centro‑Oeste. E se assim fosse, seria uma DESCOBERTA para região.

Para a correta identificação era preciso ver a planta completa.

Como era inverno e a plantinha apenas despontava timidamente da terra , combinamos esperar pela época de floração, a partir de junho, para observação da planta com flor.

E assim aconteceu. Meio ano depois, com a ajuda de um outro botânico, desvendou-se o mistério: trata-se de macela-romana (Chamaemelum nobile). Nesta espécie há plantas que exibem pétalas (na verdade, como já disse, chamam-se lígulas) e outras que não têm.

Se tive pena de não ser a tal planta “quase ameaçada de extinção”? Não. Ainda bem que não está nessa condição.

Pedi à bióloga Susana Bastos que nos explicasse como fez/ como se faz essa identificação; ela amavelmente acedeu ao meu pedido:

“O aroma libertado pela planta permite identificá-la como sendo uma marcela (também

chamada camomila romana). Quando observada a planta completa, verifica-se que

apresenta um disco central composto por flores hermafroditas, tubulosas e amarelas. As

folhas encontram-se mais ou menos revestidas por pelos curtos, finos e macios, ao

contrário de Anthemis alpestris que possui maior densidade de pelos. As folhas são alternas

e sésseis.

Dado que a espécime em estudo não possui lígulas, trata-se de Chamaemelum nobile var.

discoideum.”

Quando passares pelo caminho dos castelos procura a marcela que era colhida no verão, colocada a secar à sombra e depois usada em chá para tratar constipações e estimular o apetite e, ainda, para lavar feridas ou pele irritada. 

Ah, deixo-te também uma recolha (de 1998) de nomes de outras plantas da terra e indicações sobre os respetivos chás.

Já conhecias a marcela e as suas aplicações?

Conheces outras plantas da nossa terra das quais se pode fazer chá?

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