Quem percorre o antigo caminho entre o lugar do Casal e o de Gatão – caminho dos Castelos – pisa uma calçada muito antiga. Antes da construção da estrada M550-3, esse era o caminho usado para as deslocações. Há quem ainda se lembre dos funerais que se faziam a pé, por aí. Eu recordo as idas à igreja por esse percurso mágico: a calçada, as alminhas, a vegetação, o canto dos pássaros, as folhas secas a estalar debaixo dos pés, o som do vento na folhagem, o cucar do cuco, o estridular dos grilos e das cigarras, o calor emanado das pedras nos dias tórridos de verão, o musgo exuberante nos outonos e invernos húmidos…
Hoje, a calçada é visível apenas em algumas partes troços. Há locais onde, com certeza, foi escondida pela acumulação de terra, dando lugar a tapetes que variam com as estações do ano; noutros, provavelmente, foram retiradas as pedras, para outras construções.
Também os muros de pedra que ladeiam o caminho já são escassos e onde existem começam a dar sinais de fraqueza.
Na zona de Algar, já a chegar a Gatão, ainda podemos ver um esganelo. Estas aberturas para as leiras ou cavadas eram muito estreitas, permitindo apenas a entrada e saída de pessoas – que, para conseguirem passar, muitas vezes com molhos à cabeça, teriam de se colocar de lado e até em bicos de pés. Imagina uma mulher grávida, prestes a dar à luz, a tentar passar por um esganelo!
Os portais, mais largos, eram tapados com pequenos troncos atravessados e encaixados em concavidades esculpidas na pedra.
Assim se evitava que os animais entrassem nas leiras e estragassem as culturas; ou saíssem dos matos onde passavam o dia a rapar e à sombra dos pinheiros e das carvalhas.
A foto do portal (lado direito) tirei-a no Chão do Carvalho (Arões) – numa das idas às aldeias para recolher histórias; no caminho dos castelos já não se encontra nenhum portal de outros tempos, assim, conservado.
Mas voltando à calçada: sempre ouvi dizer que era romana – e a verdade é que os romanos andaram por aqui. Existe um casal e necrópole de época romana na zona de Gatão que o comprova. Contudo, a Professora Clara Vide, a quem mais uma vez agradeço a pronta disponibilidade, esclareceu-me que é preciso ter em conta que as vias romanas podem dividir-se em vias estruturantes, ou seja, as principais vias que ligavam pontos importantes do Império; e vias secundárias, que muitas vezes escapam ao nosso conhecimento. Por outro lado, no período medieval e no período moderno verificou-se uma grande expansão da rede viária, muitas vezes, com a reutilização do traçado de antigas vias romanas. Pode ser esse o caso do caminho dos Castelos e, por isso, ser conhecido localmente como caminho romano. Fica a dúvida.
Mas quero acreditar que aquele padre (o da lenda) passou por ali – por esse caminho cheio de história e de histórias – na sua ida ao Cabeço do Outeiro dos Riscos, para tentar resgatar o tesouro.
Conheces a origem do nome “caminho dos Castelos”? Se ainda não conheces, queres investigar?
Tens fotografias antigas do caminho dos Castelos e da construção da estrada M550-3?
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