“…Eu a todos tirava o chapéu, e também a capelinhas, nicho, de almas e cruzes de homem morto que sarapintam o caminho, …” in O malhadinhas, de Aquilino Ribeiro
Agosto é mês de Comunhões, em Cepelos (no meu tempo não sei se também era neste mês, confesso). Lembrei-me da minha Primeira Comunhão e da Comunhão Solene (hoje, Profissão de Fé); momentos marcantes na vida de qualquer criança da aldeia desse tempo. As meninas levavam vestido branco: pelo joelho (ou ligeiramente abaixo), na Primeira Comunhão; na Comunhão Solene, até aos pés – quase sempre alugados –, autênticas noivas, era o que parecíamos.
As cerimónias da grande festa das Comunhões, eram muito dinâmicas e implicavam várias idas à igreja, nos dias anteriores, para ensaios dos cânticos, do “desfile” e dos discursos para a ocasião; e para a confissão e a prova oral – era preciso saber de cor a doutrina para responder acertadamente ao senhor padre. Ainda me lembro daquele livrinho cheio de listas, com palavras difíceis. Nós, as crianças, não percebíamos metade do que lá estava escrito, por isso, tínhamos dificuldade em decorar. Mas com muito treino e tudo dito de carreirinha, lá ia correndo bem, a prova oral.
E o que tem a comunhão que ver com as alminhas? É que toda a envolvência associada ao dia da festa das comunhões traz-me também à memória o caminho que tínhamos de fazer, a pé, para os ensaios; numa altura em que poucas famílias tinham carro.
Ora pela estrada, ora pelos castelos – que era mais perto, ainda que houvesse o receio de aparecer um lobo, ou o agarra – lá íamos, com entusiasmo.
Nós, as crianças, gostávamos mais de ir pelo caminho dos castelos; tinha mais encanto, o percurso. As alminhas eram de paragem obrigatória, para rezar um pai-nosso e uma ave-maria pelas almas do purgatório. As orações faziam-se baixinho, ou só mentalmente, numa ladainha rápida, para acabar depressa. E deixavam-se flores silvestres (colhidas pelo caminho) ou uma flor trazida de casa, de um canteiro lá da horta.
No livro A Lenda do Cabeço do Outeiro dos Riscos podes encontrar a referência a esses pequenos monumentos, na página 16 e 17 e na atividade presente no final do livro.
No percurso que te convidados a fazer há várias alminhas. No caminho dos castelos há duas; perto da capela do Espírito Santo, em Gatão, há uma integrada no muro de uma casa, que quase passa despercebida. Está em mau estado de conservação, o que é uma pena.
No centro de Gatão, na Fonte, ergue-se imponente mais um exemplar.
Nas Carvalhas, perto do cruzeiro, há ainda um pequeno monumento – uma capelinha, que talvez possa considerar-se também neste âmbito. Esta não está incluída no mapa da atividade deste livro, mas podes fazer um desvio e passar por lá.
Mas afinal, o que são as alminhas?
São pequenos oratórios erigidos em locais estratégicos de passagem. Para lembrar a quem passa que é preciso rezar pelas almas do purgatório.
Hoje em dia começa também a ver-se alminhas construídas em locais onde alguém morreu.
Em Portugal há muitos exemplares de Alminhas, que ganharam maior relevo a partir do século XVII.
Luís Álvares de Andrade, chamado de “pintor santo”, em muito contribuiu para essa divulgação e difusão.
As alminhas surgem-nos de diversas formas: embutidas nas paredes de casas ou muros; na beira de antigos caminhos e encruzilhadas; podem ser só de pedra esculpida ou incluir painéis ou retábulos de madeira ou zinco pintados – as imagens podem ser de pessoas de meio corpo nu, com os braços levantados e de aspeto sofredor a arder nas chamas; e de outros Santos, da Virgem ou de Cristo. Podem incluir estatuetas de madeira, gesso ou plástico (as mais recentes), azulejos, caixa de esmolas, inscrições, abreviaturas, ter uma cruz a encimar, etc.
Muitas (cada vez mais) e variadas em estilo e tamanho, portanto.
Encontras informação sobre as alminhas nos livros abaixo. O da direita tem a recolha das alminhas de todo o concelho de Vale de Cambra, com informação associada. Muito interessante!
Conheces as alminhas referidas no livro A Lenda do Cabeço do Outeiro dos Riscos? Sabes quem as mandou construir? Tens fotografias antigas? Se tiveres estas e outras informações, partilha connosco.